30.5.18
Não tinha mesmo como durar mais
As coisas estavam todas em seu lugar
Mas ao mesmo tempo não estavam
Foram se apagando pouco a pouco
Deixando oca a nossa casa
Tudo se transformou em lembranças
Foste embora tão rápido
Que o vento se encarregou
De apagar o teu rastro
Tanto que hoje só me lembro
Do rádio ligado
Da luz acesa do quarto
E da porta aberta do armário
29.5.18
Pra que saber
Teu endereço terreno
Se há tanto tempo
É acima das nuvens que estás
E nem ao menos
Planejas voltar
28.5.18
Há uma indiscutível relação
Entre a terra
E os seres da terra
Sempre que preciso de um pouco dela
Eu a retiro lá do sítio
E não é por acaso
Que com frequência
Me deparo com surpresas
Junto aos sacos
Guardiões atentos
E em posição de defesa
Um dia é uma aranha
Em outro uma serpente
Depois um sapo
Desta vez um lagarto
Guardando com unhas e dentes
O que entende ser seu por direito
Recusando-se a ser saqueado
- Com licença
Valente soldado
Esta terra está sendo levada
Por um motivo válido
Prometo que ficará fora
Apenas pelo tempo necessário
Retornando logo ao seu reino
Com algo digno para ser plantado
25.5.18
Somos artistas decadentes
Na arte de amar
Criminosos reincidentes
Que não aprendem a lição
E não desistem de tentar
24.5.18
Sou como sou
Não consigo disfarçar
Me ame se conseguir
Mas não tente me mudar
Preciso que seja assim
Senão o amor que acaba de começar
Pode já ter que encarar o seu fim
23.5.18
Poetas são loucos
Visionários, nefelibatas
Quase nunca pautados na razão
Flashs de luzes que caminham
Num túnel escuro
Crentes de que serão capazes
De com sua arte
Por fim à escuridão
Têm métodos próprios e inusitados
Não necessariamente lógicos e testados
Ninguém os convence
De nada em contrário do que pensam
Pode obter alguma epifania com a realidade
Mas a transcendência vem mesmo é da ilusão
Da distorção, da provocação e da criatividade
22.5.18
Não consigo mais reconstituir o nosso amor
Pode parecer muito
Mas foi o pouco que restou
Fotos desbotadas numa caixa de bombons
Teu cinzeiro de prata ressentindo a tabaco
Rascunhos de poemas em papeis garranchados
Livros com trechos sublinhados
Algumas roupas amassadas no armário
Fragmentos de nossas árias preferidas
Que o vento traz não sei de onde
E logo carrega pra longe
Lenha na lareira queimada pela metade
Rolhas acumuladas no grande frasco agora empoeirado
A visita da coruja sempre no mesmo horário
Um lenço manchado esquecido no bolso do casaco
São lembranças mutiladas
Já muito distorcidas
De uma história viva que fez todo o sentido
Naqueles momentos difíceis e delicados
Agora vestígios descontinuados
De algo que precisou morrer
Mas não foi enterrado
Sem a tua presença
As pontas não mai se ligam
E tentar entender o que ficou pelo caminho
É perder tempo realimentando o sofrimento
Sem conseguir resgatar nada daquilo que foi válido
Pois uma cerca viva com espinhos protege o que foi bom
Ajudando a manter suas raízes firmemente fixadas no passado
21.5.18
17.5.18
No semáforo
Ele não permite mais ninguém
Não divide seu espaço
Artistas, desocupados
Pedintes, pastores mal encarados
Ambulantes e suas quinquilharias
Todos dali são enxotados
Quando param os carros
Se os faróis estão apagados
Ele ordena que se acendam
Abrindo os braços
Todos lhe obedecem
Como que hipnotizados
É seu direito inquestionável
Como dono do espaço
Autodenomina-se Profeta, o Ungido
E só assim aceita ser chamado
Está incumbido de uma dura missão
Um trabalho que não pode ser delegado
O de salvar o planeta de todo o mal
Usando os poderes que lhe foram dados
Afirma pra todo mundo que nunca mais comerá
Mas está visivelmente esquálido
Porém muito ativo
Impressiona seu olhar injetado
Serpenteia alucinadamente entre os veículos
Com seu corpo sujo e magro
Diz absorver toda a energia de que precisa
Tocando na luz acesa do farol baixo
São suficientes 3 segundo por lâmpada
E não mais que uma por carro
O procedimento exige que fique com a mão espalmada
Sorvendo a energia em contato com o plástico
Nunca mais adoecerá
Só precisa de 20 contatos por intervalo
Viverá para sempre
Se não falhar em seu labor sagrado
Está disposto a servir como mártir
Pelo tempo que se fizer necessário
16.5.18
Chovem palavras
Nas goteiras do meu pensamento
Recolha-as em panelas, canecas, baldes
E quando a tempestade passa
Espero que se acalmem, sedimentem
E só aí corro pra ver o que caiu lá dentro
Com a mão mesmo
Vou separando uma a uma
E as empilho
Fazendo arranjos
Que elas mesmas vão me ditando
Ideias confusas vão ficando claras
Alguns conjuntos começam
A ter novos coloridos
E é assim que acontece pra mim
A magia da multiplicação dos sentidos
É incrível pensar
Que mesmo antes da chuva
Tudo já estava lá
E que me coube apenas a deliciosa tarefa
De encontrar para cada uma um lugar
15.5.18
Para que o amor que não deu certo
Não se arraste por tempo indeterminado
Deve-se evitar o contato
E deixar de alimentá-lo
14.5.18
Mas afinal
O que as palavras precisam ter
Para ser poesia?
Para mim
Só é poesia aquilo que te diz algo
Que te contamina
Não é poesia
Uma pilha ou apanhado
De palavras vazias
Mesmo que estejam arrumadas
De forma bem bonitinha
11.5.18
Amar
Aquilo que definitivamente está perdido
É sofrer sem sentido
Amar
O que nunca mais estará ao alcance da mão
É recusar-se de forma absurda a aceitar o não
Amar
Alguém que te vê como questão encerrada
É condenar a via a uma direção errada
10.5.18
Só não posso me conformar
É que tenhas alguém
Pra te consolar
Naqueles momentos de dor
Quando contigo
Não consigo estar
9.5.18
Parfois
Il n'y a pas de mots
Qui expriment mieux
Un sentiment
Que un regard
Directament lancé
Pour la personne
Qui porte une douleur
8.5.18
A luta interior é constante
Ataque e defesa
Ocorrem a todo instante
Somos bússula de nós mesmos
E a espada é nossa agulha
Tutor que nos faz ver
O melhor e o pior do nosso ser
A concretização da metáfora
Que nos orienta e inspira
Nos ajuda a ter serenidade
No campo de batalha da vida
O Dojo nos dá guarida
Molda o nosso corpo e pensamento
Vivenciamos a harmonia
Melhorando técnica e comportamento
Aprendemos assim a usar para o bem
A nossa energia
Nossas ferramentas são o respeito
A disciplina e o tempo
Temos como base o Budo
E é assim que nasce em nós o Aikido
4.5.18
Querida
Dormes o sono pesado
Dos que deram o sofrimento por encerrado
Te deixo tranquila
Restaurando as forças
E cuidando para que nada te perturbe
Pois quando acordares
Um trabalho hercúleo te espera
Será longa e complexa
Tua volta à própria vida
A mesma vida que deixaste
Enquanto te dominava a paralisia
Sei bem como no teu íntimo lutavas
E sistematicamente eras derrotada
Mas agora considere vencida a catatonia
E eu me sinto feliz de ter te ajudade
A superar a ti mesma
Tua maior inimiga
3.5.18
A humanidade está doente
As pessoas estão doentes
Há uma epidemia de solidão
De egoísmo e narcisismo
Que pode nos levar à extinção
Tudo sob o risco de ser destruído
A tecnologia não tem nos ajudado muito nisso
E talvez até justifique
A ocorrência de tanto suicídio
Respeitando a autonomia
Direito sagrado do indivíduo
Mas ao mesmo tempo
Não podendo ficar indiferente a este limbo
Deixo aqui registrada a minha indignação
Cedendo meus ouvidos e ombro amigo
Para chorarmos juntos se for preciso
Mesmo que nada mais seja possível:
"Meu querido
Acabar pendente
Numa corda
Pode não ser a melhor
Ou a única forma
De por fim
Às Questões pendentes"
2.5.18
Hoje
O Sol resolveu se atrasar
A lua agradeceu e lhe disse:
- Não precisa se apressar
Meu amor ainda está aqui
E quero que demore muito pra partir
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