11.7.14

Olhando pela janela



Soprando o meu café
Ainda confusa e entorpecida
Com o impacto da luz que principia
Reparo num bilhete
Deixado delicadamente
Junto ao jornal do dia:

“Tive que partir
Mas deixo sob o travesseiro
Num envelope lacrado com lágrimas
Um poema ditado pela paixão
Fruto inevitável desse sentimento
Para que tudo que foi compartilhado
Fique eternamente registrado
E possa ser lembrado
Nos momentos de solidão”

Com o peito apertado
E a saudade já fazendo seu trabalho
Li num só fôlego
Procurando conforto
Aqueles versos arranjados com tanto carinho
Que em resumo mais ou menos diziam:

“Não te entristeças tanto
Quando pela manhã acordares
Com metade da cama vazia
Se aquele que até há pouco
Estava em teus braços
Partiu em silêncio
Na madrugada fria
Foi para evitar embaraços
E garantir teu repouso

Mais triste é aquela
Que na enfadonha rotina
Não colecionou memórias do amor
Foi privada de suas maravilhas
E não tem como acreditar
Que frágeis bolhas de sabão
Durem toda a vida
Por mais perfeitas e coloridas
Que possam ser suas elaboradas fantasias”

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