31.1.13

Elisão voluntária


Tiro-a de minha vida
Todos os dias

30.1.13

Meu reino por uma lágrima tua


Uma ao menos
Mesmo que tardia

Traço gravado na areia
De tua face macia

Praia
Onde esta tinta rara

Escreva a única palavra
Que dos teus lábios jamais foi ouvida

Mesmo que efêmera
E que a cambraia branca do teu lenço

Como uma onda
Desmanche-a na despedida

29.1.13

No jogo do amor


Só se deve embarcar
Desde que alguns cuidados
Sejam antes tomados

Observar

Se tudo está mesmo claro
Ou se só o melhor de cada parte
Sobre a mesa foi colocado

28.1.13

Sonhei



Que voltavas
Mas desta vez
Frágil e desarmada

Abria a porta
E nos braços
Para dentro te carregava

No meu corpo te aquecia
Curava tuas feridas
Enxugava tuas lágrimas

Te servia do meu vinho
Da minha boca sedenta
Do meu carinho

O meu amor aceitavas
E que não haveria uma nova partida
Tu me juravas

Tanka Inspiration 6


Ascendentes térmicas
Duzentos e poucos pássaros
Vôo sincronizado
Migração inevitável
Catastrófico espetáculo

24.1.13

Indivisíveis amores



Por muitas portas guardados

Álgicos segredos
Solitários cansaços

Sinceras desculpas
Alguns dissabores

Percalços raros
Vontades perenes

Encontros sonhados
Desencontros a desmontar cenários

Ventos de arrebatação
Íntimos favores

Virtuais carícias
Prazeres represados

23.1.13

Doce vida


Loja de departamentos

De um lado
Cama
Mesa
E banho

Do outro
Esporte
Lazer
E entretenimento

22.1.13

Confusão


Não por acaso

O sono é pouco
Entrecortado

O sonho raro
Quase nunca lembrado

Temo não me acostumar
A sanidade perder

E do vácuo
Não ser resgatado

21.1.13

Sereno lá fora


Em silêncio
A noite chora

18.1.13

Em portas giratórias


Se com alguém
Tiver que passar

Pegue pela mão
E arraste sem hesitar

Assim evitará
Voltas inúteis

E a possibilidade
Do não avançar

17.1.13

Do nosso caso


Resgato fatos de relevo
E escrevo
Registro pois é preciso

Nada que é vivo
Merece com o tempo
Ser perdido

Mas como sou criativo
E sigo
Pela imaginação tentado

Elaboro um pouco
Tiro invento
Melhoro acrescento

Pode ficar até bonitinho
Mas como historiador
Jamais serei diplomado

16.1.13

Este olhar


Olhar samurai
Vazio que tudo vê
 
Sempre pronto
Para sangue derramar

Lágrimas
Não conhece
 
Não tem pressa
Não se cansa
 
Olhar livre
De espera
 
Pela vida
Pela morte
 
Tanto faz

15.1.13

À noite


O sono
Atrai encantamentos

As ideias ficam mais belas
Com muitos adereços ornadas

Mas no despertar
Perde-se parte do espetáculo

Que continua num outro lugar
Vivo e resguardado

14.1.13

Dê-me teus lábios

 Castos

Acrescente ao momento
Mil e um abraços

Aceite os nós
De nossos cabelos desgrenhados

Misturemos marcas
Reconheçamos relevos

Olhos semi-cerrados

E depois
Façamos silêncio

Pele com pele
Examinando detalhes do teto

Pelo tempo necessário

11.1.13

Quero cobrir-te inteira


Com tudo aquilo que gostas
Mimos aromas
Pérolas dourados

Beijos molhados
Difusos afagos
Indecorosas propostas

Mas se resistires
Às prendas e galanteios
Mudarei a estratégia

Ofertarei céu e terra
E desprezando portas
Roubar-te-ei pela janela

Quero descobrír-te inteira
Peça por peça
Entrega tranquila verdadeira

Sem freios
Fantasia
À luz de velas

Jogar fora de vez
Este medo injustificado
Que só te faz sofrer

Ter de volta
No teu rosto
O sorriso desenhado

Retrato lindo
Indisfarsável
Do desejo de viver

10.1.13

Ela vive


Com vento no rosto
Lama nos pés
E alma lambuzada de estrelas

Não partas deste mundo


Hoje vim só
Para nos teus cabelos mexer

Tentar te fazer dormir
Como sempre fiz
Antes de me mandares ir

Acalmar o teu tormento
Baixar o som das palavras
Aliviar a tua dor

Colocar-te no sono raro
Repouso
Necessário

E se pela manhã
Houver um despertar
Estarão te esperando
Jornal
Leite
Torradas
E um café bem quente

Sentarás à mesa
Como foi hábito
Verás que a vida continua a mesma
E que não há sentido em fazê-la terminar

Notarás que já terei saído
Desta vez mais tranquilo
Certo de que o meu amor ainda vive
E que não serei mais para ti um atrapalho

9.1.13

Quando o que se veem são só cicatrizes

Já estão secas as lágrimas
E explicações
Não mais são necessárias

Em alguns momentos o que se quer


É o amor sem razão
Ensandecido e imperfeito
Torto e errante
O amor que grita
Sem protocolo ou agenda
Com riscos e arestas
Espinhos e tentáculos
Amor aos pedaços
Com asperezas
Engasgos e receios
Lágrimas muitas
Amor de suores profusos
Espasmos múltiplos
Que inquieta
Invade e faz sonhar

Por vezes o que se quer
É o amor acertado
Sem delírios e flanado
Calmo e sussurrado
Seguro e aninhado
Redondo e maduro
Amor pleno e comportado
Orgulhoso de si
Pelo cume conquistado
Com vaidade curado
Sem prazo de validade
Que faz feliz lá no íntimo
Amor hidratado
Com o carinho dos anos polido e domado

Por vezes o que se quer
É a mistura destes dois amores
E todos outros muitos amores
Amores quaisquer desde que amores
Formas distintas de amar
Antagônicas necessidades
Dos que se lançam neste mar

Nuvens


Atravessando janelas
Manhã ofuscada de urgência e luz

Amarrotado cetim

Lágrimas que não se contém
Quando a entrega é plena

Tem-se a precipitação do fim

Tanka inspiration 5

Numerar estrelas
Negar-lhes identidade
Que sentido faz?
Há suficientes nomes
Para todas entidades

8.1.13

O que mais dói


Não é o soco
Com o punho fechado
Na boca do estômago

Nem a lâmina da faca
Me penetrando as costas
Num momento de desatenção

O que mais dói
É não entender o silêncio
E a agressão

Não mais do que palavras


E lembranças
Hoje posso te dar

Nossas mãos
Há muito afastadas

Um vale profundo
Puseram-se a cavar

Sob as unhas
Ficou terra impregnada

E quando a água não corre
É impossível lavar

A mais humana das manifestações é o beijo


O pleno beijo
Suculento
Invasão consentida pelo desejo

Uma boca em outra boca
Sugando
Remexendo

Dando e aceitando
A maior das intimidades
Interagindo a contento

De toda a natureza nos diferencia
Nem o sexo o alcança
Jamais seria tão perfeito

Tudo mudou


Aconteceu de repente
Não há mais como ser o mesmo

Um corte involuntário
Um acidente

O sangue está mais denso
Mais vermelho

No espelho
Sou o que vejo

Há riscos nisso tudo
Reconheço