31.1.19
Esmurrar o espelho
Por não suportar
A imagem
Que nele vê refletida
Não neutraliza
A insatisfação que tens
Com quem és
E com tua vida
Pois cada estilhaço
Recolhido e examinado
Mostrará lá no fundo
Um novo ser
Igualmente infeliz e inadaptado
Multiplicando em muitas vezes
Teu sofrimento acumulado
30.1.19
No fim de todo santo dia
Um bando de maritacas
Em disparada
Maritacam alegres
Numa linguagem cifrada
Que é só sua
A meia altura
No caminho de volta pra casa
Passam-me frente aos olhos
Sem se darem conta
De como são observadas
É uma ruidosa saga diária
Que desperta minha curiosidade
Sobre que assuntos são tratados
Nesta inesgotável conversa entre comadres
28.1.19
As vezes
Tudo parece tão difícil
Mas aí, uma voz chega
E simplesmente te diz:
- "Suba mais um pouco na montanha
E tente chegar ao pico"
E eis que ao ultrapassares
O tapete de nuvens
O céu te aparecerá
Com seu azul límpido
Inspirador de tão lindo
E o sol
Ah, o sol
Ele te ofuscará os olhos
Até o ponto de doer
De tanto brilho
24.1.19
Se passar muito tempo
E você voltar
Ainda me querendo
Querendo que meu corpo
Visite o seu corpo
Como sempre foi do seu gosto
Antes de se entregar
Olhe bem no meu rosto
E mesmo que me veja
Só o faça se tiver certeza
De que ainda sou eu no meu lugar
22.1.19
Acumula-se tempo
Rareiam os frutos
Atrofiam vasos e raízes
Galhos se perdem
O tronco enfraquece
E a enormidade física
Anteriormente vantajosa
Para o sujeito
Torna-se um peso
É neste estágio
Que para aquele ser
Antes altivo e determinado
O apoio torna-se indispensável
Pois sucumbir aos ventos e tempestades
Apenas por recusar ajuda
Causaria tanto mal para si
Quando para quem estiver nas proximidades
18.1.19
J'appelle parce que j'ai besoin
Por me calmer
Parce que j'ai besoin d'un mot d'affection
J'appelle pour répondre aux désirs
D'un coeur blessé
17.1.19
Você é aquela
Que vê beleza até num poema vulgar
Que chora com qualquer canção
Que vive pelos cantos a suspirar
Que acredita já ter reservado
Um grande amor
E só lhe falta encontrar
16.1.19
Cinco e meia
Acordo assustado
Corpo molhado
Uma tristeza imensa
Coração apertado
No infinito da cama
Me sinto pequeno
Fico perdido
E temo por estar sozinho
15.1.19
Por que te decepcioso?
Será que é porque não sou mais
Aquele de tempos atrás?
Mas isto não é defeito
Independeu da vontade
Neste mundo
Até os mortos mudam
Querer que alguém
Corresponda exatamente
Ao que trazes na memória
É ilusão
O único jeito
Que poderia deixar o que se vê
Ficar igual
Ao que está no pensamento
É se fosse possível
Paralisar o tempo
Mas a tua decepção
Deve estar acontecendo
Não pelo fato de ter eu ter mudado
E sim pelo que me tornei
Algo que não atende mais
À tua fantasia
Mas o que me importa hoje de fato
É que agora eu me sinto melhor
Mais centrado
Feliz e realizado
14.1.19
A solidão
Não é uma estranha
Em minha vida
Vai, Querida
Vai viver
O que precisas
Muitas vieram
Todas se foram
Motivos para partir
Não faltaram
E ainda que o amor
Sobrevivesse
Não serias tu
A exceção
Neste jogo de dados
Agora vai
Vai viver
A tua vida
Mas deixe a porta aberta
Para que possa entrar
Uma outra visita
11.1.19
Sabe-se que o amor está para acabar
Quando o prazer é pouco
E a dor segue pelo caminho oposto
Quando o tédio domina
E o silêncio passa a fazer parte da rotina
Quando esgotam-se os planos
E só se enxergam os danos
Quando quase tudo é lembrança
E não se usa mais a palavra esperança
Quando predomina a tristeza
E sorrir passa a ser um ato de destreza
Quando os sonhos são abandonados
E parecem maiores os obstáculos
Quando falta envolvimento
E a vida se afoga no medo
Quando muitos são os argumentos
E cada um passa a colecionar os seus segredos
Quando há pouca cor
E tudo desbota perdendo também o sabor
Quando diminuem os cuidados
E os incidentes são justificados pelo acaso
Todos notam quando os sinais são evidentes
Mas os amantes geralmente são negligentes
Deixam que a inércia assuma o leme
E a reversão está apenas nas mãos de quem sente
Para isso primeiro é preciso admitir
E nem sempre é fácil reagir
Mas enquanto houver algum afeto
Os amantes não devem abdicar do mesmo teto
E se ainda arder alguma chama
Precisam continuar compartilhando a cama
Pois o contrário seria a consagração do fim
E a aceitação de que não há mais trabalho neste jardim
10.1.19
Fundamentos
Nos dão a base
Argumentos
Orientam nossas vidas
Mas precisamos ficar atentos
Não aceitar a cegueira dos extremos
Mantendo a crítica
Deixar-nos escravizar por preconceitos
Nos torna fundamentalistas
Sujeitos a repetir os erros dos fascistas
9.1.19
Amor que definha
E não termina
Desorientado
Desvitaliza
Fica desestruturado
Deglutido
Segue amorfo
Empastado
E por mais que seja absorvido
Esvaziado
E descaracterizado
Nunca estará esgotado
É amor de eterno vai e vem
Cada vez mais irreconhecível
Espectro do que foi em tempos idos
É chamado de amor ruminado
8.1.19
C'est très facile de mentir
Difficile est d'accepter
Que la mensonge
Parfois c'est
La sortie la plus digne
À éviter
Quelqu'un
Finir par être blessé
7.1.19
Quando o retrocesso
Toma as rédeas
E dita a conduta a ser seguida
Qualquer ousadia em se escapar da canga
Ou olhar fora da bitola
É considerada subversão
Uma ameaça aos valores
E à ordem estabelecida
Por isso precisa ser reprimida
Sem misericórdia.
Por ignorância querem nos classificar
Por medo querem nos enquadrar
Numa paleta de cores restrita
Nos fazer sentar passivamente
Num par de cadeiras iguaiszinhas
Um de frente pro outro
E ficar ali calados aguardando ordens
Tendo que pedir autorização para falar
Aceitando tudo de forma polida
E parecendo concordar
Sem exceção.
Mas não devemos nos sujeitar
A qualquer restrição
Exigimos respeito às diferenças
E para isso será preciso restaurar
A escada da luz e da liberdade
Numa corrente de união
Usá-la para saltar o muro
Do ódio
Do preconceito
E da discriminação
Ganhar o mundo
Fazendo valer nossos direitos
Exigindo viver a vida
Como a de qualquer cidadão
Seguindo sua natureza íntima
Com coerência e amor
Sem vergonha do que se é
E rejeitando com todo o ímpeto
As forças do obscurantismo
Sem exceção.
4.1.19
Por um tempo
É, por um tempo
Nunca se sabe ao certo por quanto tempo
Pode parecer até que tudo foi sufocado
Que tudo está sob controle
Que tudo é para sempre
Que nada mais será diferente
Mas a verdade é que no universo
Nada pode ser considerado eterno
Monolítico, imutável
Indestrutível, inexpugnável
Nada está definido
Nada está acabado
Repare que aos poucos, bem aos poucos
Surgem sinais de desgastes, fissuras no processo
E onde antes só se viam soberba e insanidade
Truculência e inflexibilidade
Acontece uma sequência sutil de fatos
Escorregam os controles e as coisas escapam
Não conseguem mais ficar sujeitas
Apenas às leis humanas e tacanhas
Voltam a valer o bom senso
E a inteligência espontânea da natureza
Voltam a prevalecer os desígnios da expansão
E da contínua mudança
Assinar:
Postagens (Atom)